Eu estou sempre esperando a Mariana chegar e sentar-se ao meu lado e como quem passa uma carta boa, ela me deixa ver o que de tão belo desenhou na escola...Seus desenhos tem algo de mágico e delicado, o traço suave, as cores fortes. Totalmente diferente da mãe que apresenta uma inclinação fortíssima para os tons pastéis!
Mas o encantamento não termina aí, pois observar seus gestos são de um prazer quase imensurável, os cabelos levemente encaracolados, o sorrisão iluminado, a ternura e o cheirinho do abraço bem apertado e do beijo de Borboleta...quase posso ver seus olhos translúcidos de um caramelado que derretem qualquer olhar gélido, me faz ter sempre a certeza de que essa cena , mesmo que corriqueira, terá o frescor de um novo encontro a cada dia.
O dom encantador da Mariana foi herdado do Vinicius, que em matéria de encantamentos não me deixa dúvidas de que a vida ao seu lado foi a melhor das decisões. Todos os dias repetimos palavras, gestos, toques que só realçam o tipo de amor que buscamos e que tentamos passar pra doce Mariana.
O cotidiano? Sim, ele existe, mas não nos sufoca... Pelo contrário nos deixa mais ternos uns com os outros. O cotidiano, aliás, depende muito do campo de visão e das cores com as quais presenteamos as pessoas que amamos e isso, essa visão, eu devo ao Vinícius... Quando eu acaricio de leve os seus cabelos, sempre recebo um abraço forte, porém delicado, se é que palavras tão opostas podem caminhar juntas com tamanha intensidade e desejo, que, servem muito bem para somar-se a palavra Amor.
A Mariana sempre foi tranqüila, mas muito dada às amizades e principalmente as amizades familiares. Uma vez por ano temos de nos juntar aos meus queridos Mário e Fábia e a pequena Lili... A Mariana e a Lili, tem tantos assuntos quanto os meus e da Fábia...Muito boa a sensação de vê-las correndo pelas alamedas do jardim enquanto cai uma leve chuva, deixando exalar um cheirinho de terra molhada e do quanto é bom falar do amor que sentimos e das experiências de nossas pequenas Bonecas...Enquanto o Mário e o Vinícius, relembram nossas últimas férias na casa do Tom e conversam em prosa, e versam, entrelaçando nossas vidas ao cheiro inconfundível das roseiras no quintal.
Tom Jobim
Olha
Está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
A frescura das gotas úmidas
Que é de Betinho, que é de Paulinho, que é de João
Que é de ninguém!
Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Um amor tão puro carregou meu pensamento
Olha, um tico-tico mora ao lado
E passeando no molhado
Adivinhou a primavera
Olha, que chuva boa, prazenteira
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa, criadeira
Que molha a terra, que enche o rio, que lava o céu
Que traz o azul!
Olha, o jasmineiro está florido
E o riachinho de água esperta
Se lança embaixo do rio de águas calmas
Ahh, você é de ninguém!